Paris, 2006
Ele acordava em seu
apartamento, depois de uma noite muito especial, levantou-se, olhou ao lado e
se perdeu por alguns segundos observando-a dormir. Os lençóis de seda negros
contrastavam com sua pela alva, mas faziam um sobretom sob os cabelos negros,
voltou-se a si quando ela mexeu-se e espreguiçou-se devido às luzes do sol que
desviando da torre – pois como em qualquer filme, de toda janela de Paris é
possível observar a Torre – insistiam em penetrar na janela daquela cobertura
no 8° arrondissement.
Rapidamente fechou as
janelas, beijou-lhe a testa e observou por mais alguns instantes seu dormir.
Desceu, ferveu a agua para o café, foi até a boulangerie e pediu “S'il vous
plaît Mademoiselle, deux croissants!”, caminhou algumas quadras, e encontrou le
fleuriste, e como nos filmes, lhe comprou algumas tulipas amarelas, e
caminhando de volta ao apartamento viu borboletas voarem, bolhas de sabão
soltas pelos palhaços de rua, um louco tocava violino em troca de uns centavos.
Chegou, a agua já fervia,
diluiu o café e aguardou os quinze minutos da prensa francesa, serviu as duas
xicaras, colocou os croissants em um prato, alguns tabletes de manteiga, um
pouco de geleia de amora, e subiu. Da porta fechada já via a luz por de baixo,
ao abrir o vapor dominava o quarto, a porta do banheiro aberta, Carla Bruni
alumiando o quarto. Da porta pode observar as pernas brancas sendo
cuidadosamente alisadas pelas mãos com esmaltes vermelhos. E ela brincava com a
espuma que se formava na banheira e então ele entrou. Agora Zaz já comandava o
ambiente, e num movimento rápido ela se levantou, chamando-o, e ainda mesmo de
roupa ele entrou. A agua morna molhava suas calças, a camisa rasgando-se, os
lábios se tocando, as línguas dançando, as mãos procurando, o pescoço sendo
mordido. Ele a carregou no colo levou-a ate sua cama, e lá, deram continuidade
ao que faziam na madrugada passada.
Agora, sentados nus na cama,
tomavam o café, que aquecido pelo sol e vapor, manteve-se quente por todo
aquele tempo. O croissant era dividido boca a boca, assim como os beijos, as
tulipas cheiradas e delicadamente desciam por toda a pele agora rosada.
Paris, 2012
Ele acordava em seu
apartamento, depois de uma noite qualquer em que se embriagou com um copo de
whisky, levantou-se, olhou ao lado e se perdeu por alguns segundos lembrando-se
da pela alva contratando com o lençol de seda negro, a maneira como os cabelos
negros sobretonavam os lençóis, voltou-se a si quando um raio assustou Paris,
desceu e caminhou pelo 8° arrondissement. Foi até a boulangerie e pediu “S'il
vous plaît Mademoiselle, Café et croissant!”, bebeu e mordeu o croissant, e
lembrou-se de 6 anos, lembrou-se de tudo, voltou a caminhar pelas quadras,
encontrou a florista, comprou algumas tulipas amarelas e presenteou um casal de
senhores que no banco observavam seus netos brincarem, lembrou-se daquele
banco, daquele caminhar que dançava a cada passo, viu borboletas voarem, bolhas
de sabão soltas pelos palhaços de rua, e um louco que tocava violino em troca
de uns centavos. Pôs-se a observar aquelas duas crianças, que sem angustia
nenhuma, que sem medo algum, pulavam e rodavam sobre a grama.
E ouviu a senhora perguntar
a neta, “Qu'avez-vous mangé?”, e rapidamente a menina respondeu “J'ai mangé le
croissant!”
As lagrimas escorriam pelo
rosto, a boca tremia e num soluço, com l'hymne a l'amour, sendo tocado pelo
louco do violino, ele entendeu o que acontecerá, ele viu que já era hora de
andar, de mudar, percebeu que as coisas tem de ter o tempo delas, que podem
durar uma noite ou uma vida, que as belezas são efêmeras como o croissant.
Glossário
Arrondissement
– Nome dado aos bairros de Paris
Boulangerie -
Padaria
S'il vous
plaît Mademoiselle, deux croissants! – Por favor, Senhorita, dois croissants
Le fleuriste –
A Florista
S'il vous
plaît Mademoiselle, Café et croissant! - Por favor, Senhorita, café e
croissant!
Qu'avez-vous
mangé? – O que você comeu?
J'ai mangé le
croissant! – Eu comi o croissant!